Lendo o jornal
Querida é tão normal
Viver cercado de correntes
De mil paredes diferentes
Me chama atenção
Você não me notar
De tão grande que fui
E não poder evacuar
Quero mais um café
Mas preciso descansar
Amanhã vou trabalhar
E as crianças estudar
Acordo uma vez
Na madrugada fria
Escuto vozes, gritos
E toda correria
Mas ninguém me avisou
Do esvair de um mundo inteiro
Às vezes pode ser
Mais um teste rotineiro
E se outro dia se for?
Salvem as crianças
E toda esperança
E se outro dia não for?
Motivo de alarde
Não espere que eu aguarde
E se outro dia se for?
Em Chernobyl
Perdi, sem nem contar
Os sóis a me acordar
Fiquei sentindo coisas
Que, por bem, chamas de amar
Mas volta a cantar
O céu dessa manhã
Crianças venham cá
Com tantos olhos sem olhar
Ninguém deixou entrar
Só queria me animar!
Os risos brancos tristes
Do mundo afora, livre
Só resta, então, chorar
Em prantos, lamentar
Dos erros que cometi
E dos que vêm de lá
Mas agora, que se foi
Compreendo a ironia
Do rádio sempre exposto
Dessa piada de mal gosto
Mais um outro dia se foi
Dançando ao som do rádio
Sem comédia, sem estádio
Mas pra quem comia, não foi
Um dia, uma tarde
Mutante, sem piedade
E quando outro dia se for
Quem virá
Quando meu filho de for?
Junto de tanta gente
Que sequer de rádio entende
Quando o cabelo se for
De corpos abençoados
Pelo fim adiantado
Mais um outro dia sem cor
Em Chernobyl